sexta-feira, 21 de março de 2008

14 PIONEIROS

A Polícia sempre esteve presente nesta região do Brasil desde os primórdios. Mas poucos são os registros encontrados sobre a primeira fase dessa organização.
Um desses poucos registros encontra-se publicado no Diário Oficial de 3 de fevereiro de 1915. Nele consta o ato do Governo do Estado do Amazonas nomeando a 1º de fevereiro daquele ano o 1º tenente da Força Pública daquele Estado, Aristóteles Leite, para o cargo de delegado de Polícia da Vila de Porto Velho, Rio Madeira.
Mais tarde, no Diário Oficial de 16 de fevereiro de 1915, há outra nomeação para o cargo de delegado de Porto Velho: Antônio Paiva Cavalcante, em substituição ao 1º tenente Aristóteles Leite.
Cavalcante teve direito à ajuda de custo no valor de 300 mil réis e passagem fluvial de Manaus a Porto Velho.
Os antigos contam que foram delegados de Polícia em Porto Velho, entre outros pioneiros, Joaquim Rodrigues Valente, Esron Penha de Menezes, João Moreira Lima, Francisco Pio Machado, Raul Andrade, Manoel Bluhm e Emídio Alves Feitosa.
Encontramos ainda registros de que em abril de 1964, dias depois de os militares terem assumido o destino do País, o Dr. Eli Gorayeb foi nomeado chefe da Divisão de Segurança e Guarda do Governo do Território Federal de Rondônia.
O tenente Orlando Freire foi designado para o cargo de delegado da Capital.
Até a criação do Estado, em 1981, desempenharam o cargo de secretário da Segurança nomes ilustres como Odacir Soares, Miguel Roumiê, Artur Carbone Filho, José Mário Alves da Silva, entre outros.


MIGUEL ROUMIÊ

O advogado Miguel Roumiê foi secretário de Segurança Pública na época em Rondônia era Território Federal. Sua gestão cobriu o período de maio de 1970 a novembro de 1972. O governador era o coronel João Carlos Marques Henrique. Nascido em 1941, em Belém, PA, Roumiê é descendente de Libanês. Seu falecido pai, Jorge Miguel Roumiê é um dos pioneiros em Rondônia. Jorge Miguel chegou a Porto Velho nos idos de 1930 como vendedor de jóias. A 7 de outubro de 1952, trouxe consigo a família e passou a residir definitivamente nesta cidade, tendo fundado a Joalheria e Relojoaria Cabeça Branca, na rua José de Alencar. Antes o comércio funcionava no prédio do comerciante Abidão Bichara, perto da Barão do Rio Branco. Depois, mudou-se para as proximidades da agência do Banco do Brasil.

Miguel Roumiê formou-se pela Faculdade de Direito do Pará no dia 19 de dezembro de 1964. Amante das ciências sociais – nunca gostou de matemática, química e física – decidiu tornar-se advogado depois da morte do pai, assassinado em 1957, por Stanislau Lourenço Rolim.

Quando chegou a Porto Velho, em 1952, Miguel Roumiê tinha apenas 11 anos de idade. A população de Rondônia girava em torno de 25 mil habitantes, sendo 15 mil na região de Porto Velho e o restante em Guajará-Mirim.

Chamado para ser secretário de Marques Henrique, Miguel Roumiê assumiu no lugar do major Ivo Augusto Barreto de Oliveira. Foi sucedido pelo coronel Schmidt, da Polícia Militar do Distrito Federal. Naquela época, havia apenas uma delegacia de polícia, a qual funcionava no prédio da Central de Polícia, construído na esquina da rua Farqhuar com a avenida Carlos Gomes. Ali funcionava tudo, inclusive o serviço de identificação. A Guarda Territorial era comandada pelo capitão Antonio Fernandes.

Nos idos de 1970, o Território começou a ser “invadido” pelos migrantes oriundos do Sul do País, atraídos pelo chamamento do governo. O 5º BEC estava abrindo a BR-364. A Polícia não tinha nenhuma estrutura. O delegado de Polícia de Porto Velho era José Melo e Silva, na época de Miguel Roumiê, secretário.

Já pensando na implantação de uma estrutura que suportasse os avanços que Rondônia ainda experimentaria, Miguel Roumiê sensibilizou o governador para abrisse vaga para dois delegados. Uma delas foi ocupada por Manoel Flávio Médici Jurado, o primeiro bacharel em Direito a exercer o cargo de delegado de Polícia. A outra vaga foi ocupada por Edson Ferreira, um advogado que atuava no estado do Pará. Ele ficou por aqui algum tempo e depois retornou à sua terra natal.

Foi na gestão administrativa de Miguel Roumiê que nasceu o embrião da Polícia Militar. Integrantes da então Guarda Territorial foram mandados para fazer curso de formação fora do território para adquirirem conhecimento e assim preparar a futura corporação.

O índice de crimes nos idos de 1970 já começava a preocupar o governo. Naquela época o garimpo de cassiterita estava em pleno vigor. A violência era diferente da hoje, tão disseminada no país. Havia homicídio, sim, como em qualquer cidade do Brasil.

Os policiais daquela época eram cidadãos abnegados como Evaldo, Simeão Tavernard, chefe do SIC (Serviço de Investigações e Capturas) hoje Sevic, Edgar Brasil, Abelardo. Eles eram policiais por vocação uma vez que não tinham nenhuma instrução como ocorre na época de hoje. Foram chamados para serviço ao Território e se dedicaram à causa.

Reconhecendo a necessidade de aprimoramento da Polícia Civil, Miguel Roumiê conseguiu com o general Canepa, diretor da PF, dois cursos de formação para os policiais do então território. Com isso ele procurou imprimir uma nova filosofia.

Na Guarda Territorial, a tropa era composta por aproximadamente 150 homens. Entre eles nomes como Pau-Seco, Burro Sumido, Valnir Ferro de Souza, Sarkis, entre outros.

O hoje escritor e professor Esrom Penha de Menezes era o comandante do Corpo de Bombeiros quando Miguel Roumiê era o titular da Segurança naquela época.

O CFAR, hoje 17ª Brigada de Infantaria de Selva, era a unidade militar do Exército Brasileiro já estabelecida em Porto Velho. Por ela passaram oficiais que muito contribuíram com o progresso de Rondônia. O coronel Ivo Célio da Silva, por exemplo, que serviu nessa unidade se tornaria fundador e primeiro comandante-geral da Polícia Militar de Rondônia.

SEQÜESTRO

Miguel Roumiê enfrentou muitas dificuldades na época em que Rondônia era Território, mas nada se iguala ao que lhe aconteceu no dia 16 de janeiro de 1997. Ele tinha deixado o carro na concessionária para revisão e ao chegar ao escritório, na rua Presidente Dutra, a menos de 20 metros do prédio do Tribunal de Justiça, mal adentrou a sala por volta das 9h quando foi surpreendido por um bandido de arma punho ordenando que ficasse quieto.

O bandido tinha acabado de assaltar um posto bancário que funcionava no prédio do Fórum Criminal. Na fuga, o companheiro dele foi morto em tiroteio com policiais. Com medo, o bandido invadiu o escritório e ali ficou até à noite, resistindo a negociar com a Polícia.

Com a arma apontada para Miguel Roumiê, o delinqüente só saiu à noite depois de ter as garantias de que não sofreria nenhum ataque da Polícia que mantinha toda a área em redor isolada.

Miguel foi dirigindo um automóvel Fiat, com os vidros cobertos de jornais. Ele seguiu para a zona Leste e ali, numa escura, o bandido tirou uma segunda camisa, enrolou a arma e antes de sair se fingindo de manco, apertou a mão de seu refém. “Obrigado doutor, pode ir em paz”, e sumiu na escuridão.

Com dificuldade para sair daquele lugar, Miguel Roumiê pediu ajuda a taxistas.

Dias depois, quando estava ministrando uma palestra em Roraima, Roumiê foi avisado por telefone de que o homem que o tinha mantido refém havia sido morto em tiroteio com policiais em Manaus (AM). No episódio, o bandido havia baleado um policial e usava o nome falso. Por causa disso, seu corpo ficou sendo velado por mais de quinze dias em Porto Velho enquanto a Justiça autorizava o sepultamento.

EDGAR BRASIL


Edgar Brasil foi delegado de Polícia em Porto Velho durante muitos anos. Ele foi um dos pioneiros de nossa segurança.

ARTHUR CARBONE FILHO

Hoje ele está aposentado, mas durante muitos anos atuou como profissional de segurança. Como delegado da Polícia Federal, o paulista Arthur Carbone Filho foi superintendente regional da PF e secretário de Segurança do ex-Território Federal de Rondônia, nos idos de 1970, numa época de muitos conflitos agrários.
Formando pela Faculdade de Direito Mackenzie ele foi chefe da PF em Rondônia por duas vezes - 1973 a 1975 e de 1987 a 1990. Ele na gestão dele que a sede própria da PF foi construída no chamado Parque dos Tanques, onde funciona até hoje a instituição.

POLICIAIS CIVIS

Dos policiais civis antigos, Jaime é um deles, mas já aposentado. Ele ingressou na Polícia Civil no dia 3 de janeiro de 1977. Na época, eram seus companheiros os policiais Santana, Coruja, Norberto, Manoel Carlos de Moura (hoje advogado no Acre), que estava na Polícia desde 1975, Robero, oriundo da Guarda Territorial, Sargento Geraldo, aposentado e morando em Goiás, Evandro, escrivão de Polícia e pai de Edson Matos, que anos depois seria assessor jurídico da Direção Geral da Polícia Civil, e o agente Manoel Faustino.
O hoje conceituado advogado Manoel Médici Jurado foi o primeiro bacharel em Direito a assumir o cargo de delegado de Polícia em Rondônia. Depois dele, vieram Anísio Feliciano da Silva, José Anastácio Ferreira, e outro bacharel que foi exonerado ao ser apanhado em flagrante levando objetos da polícia para fora de Rondônia.
Na época em Manoel Médici Jurado assumiu como delegado de Polícia, sua área de jurisdição cobria de Porto Velho a Vilhena, na divisa com o Mato Grosso.

DELEGADO PEDRO MARINHO

O paraibano Pedro Manoel Macedo Marinho é outro delegado antigo em Rondônia. Ele ingressou na Polícia no dia 28 de dezembro de 1981, oriundo de João Pessoa (PB), sua terra natal. Aqui ele encontrou já como delegado os bacharéis Marcos Porto, Luciano Bezerra Agra (trabalhou de 79 a 83) Dario Xavier de Macedo, José Jório Ismael, Francisco, Tarcisio Emilio de Souza, Marcos Santiago, Ivanilda, Auxiliadora Toscano, Carlos Roberto Smith, João Lucena Leal, Valderedo Paiva dos Santos, José Lamarques, Sidney Maio, Luiz Glaysmann, Adalberto Mendanha, Francisco Ribeiro de Lima, Francisco Matos, Jairo Macedo, João Evangelista, José Augusto de Oliveira, Francisco Luiz Xavier, que era delegado em Jaru, Jovely Gonçalves, Pedro Lima, Valdemar Cândido de Oliveira, Pedro Rosa, Adão Caetano, Henry Anthony Rodrigues, Antonio Wallace Pereira de Lucena, Mauro Frigeri, Milton Prado e Paulo Otto Barbosa.

CURRÍCULO

Formado em Direito pela Faculdade Instituto Paraibano de Educação, Pedro Marinho foi, entre outras funções, delegado regional em Guajará-Mirim, adjunto do 3º DP, titular do 1º DP, uma vez diretor do DPE, quatro vezes diretor do DEPOM e uma vez diretor-geral da Polícia Civil. Na época em que ingressou na Polícia, não havia concurso. Marinho apenas assinou um contrato na Secretaria da Administração, depois fez exame de sangue para saber a tipagem, recebeu a carteira de delegado e o revolver, novinho na caixa. Com onze anos de experiência na administração de hotel, em João Pessoa, ele virou delegado de Polícia em Rondônia. Na família, seu avô tinha sido policial e um tio corregedor, na Paraíba.
Em 2004, Pedro Marinho assumiu a chefia de gabinete da Secretaria da Segurança, Defesa e Cidadania, a convite do então secretário Paulo Moraes.
Pela Polícia passaram outros delegados como Oscar Luchesi (de 81 a 83), Edson Martins de Souza, hoje procurador em Vilhena, e Claudionor da Silva, advogado da União em Florianópolis (SC).


SEBASTIÃO TEIXEIRA CHAVES

Também é daquela época o delegado Sebastião Teixeira Chaves. Ele deixou a Polícia Civil para ingressar na magistratura e hoje é desembargador. Em 2006, assumiu a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.
Na época em que se desligou da Segurança, Chaves era diretor de Polícia Judiciária, cargo correspondente ao do hoje diretor-geral de Polícia Civil.
Nascido em Correntes (PE) no dia 28 de janeiro de 1949, Chaves veio para Rondônia no ano de 1977. Na Polícia de Rondônia, ele ocupou diversos cargos, entre eles o delegado da Polinter, diretor de Operações, chegando a diretor-geral onde permaneceu até 1982. Aprovado no I Concurso Público para ingresso na magistratura de Rondônia, tomou posse no cargo de juiz de Direito da Vara Criminal de Guajará-Mirim em 26 de julho de 1982. No ano de 1985, foi promovido a 3ª Entrância, pelo critério de Merecimento. Com a instalação da Vara de Entorpecentes, passou a ser o titular da mesma, onde permaneceu até 1994. Por antiguidade, foi promovido a desembargador no dia 31 de março de 1994. Eleito para o cargo de vice-presidente no biênio 1998/2000. Ainda fez parte da Câmara Civil do Egrégio Tribunal de Justiça de Rondônia.
Em 2006, Chaves assumiu a presidência do Tribunal de Justiça.

JETER MAMANI


Ele é da época de Zé Mário. Policial era chamado de detetive e só mais tarde passou a ser denominado de investigador. Jeter cuidava das investigações. Em 2004, Jeter Lima Mamani era comissário na Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (DEDT). Ele ingressou na Polícia Civil no dia 3 de janeiro de 1977, como detetive. Sua matrícula na Polícia é a de nº 00262.
O IML, com o médico-legista Francisco Parentes, o IC, com o dr. Francisco Ribeiro de Lima, eram considerados modelos naquela época, suplantando os órgãos congêneres do Estado do Amazonas. O Serviço de Telecomunicações da Polícia atendia, via rádio, todas as unidades localizadas no interior, e ainda prestava assistência à população, transmitindo recados.
Em Guajará-Mirim, um dos delegados antigos, apesar de não ser formado em Direito, era Américo Abiorana. Ele prestou relevantes serviços à Polícia. Ele atendia Guajará-Mirim, Surpresa, Vila Nova (hoje Nova Mamoré, Iata e Abunã).

AMÉRICO ABIORANA

Seu nome era Américo Ferreira Abiorana, nascido a 11 de dezembro de 1936 na cidade de Porto Velho. Era filho de Salomão Abiorana e de Maria Pereira Abiorana.
Aos 13 anos de idade foi morar no distrito de Iata, região de Guajará-Mirim. Seu pai era o administrador. Prematuramente começou a trabalhar para sustentar a família de 16 filhos e havia escassez de alimentos. Estudou no Colégio Dom Bosco em Porto Velho onde destacou-se como aluno exemplar.
Aos 16 anos, Américo transferiu-se para Guajará-Mirim onde serviu ao Exército e depois montou uma oficina de recuperação de peças de armamentos, molas, alças e massas de mira e um alto elevante sistema de oxidação de armas do qual sempre guardou em segredo e também os serviços da parte da marcenaria com serviços em alto relevo na constração de guarda-mãos e coronha de armas, especiarias de ferro como facas para corte de seringa usadas em árduo serviços de colheita de látex, fazendo sempre produtos com perfeição.
Em 1962, Américo Abiorana foi trabalhar na Delegacia de Polícia Civil onde teve atuação destacada e reconhecida por seus superiores como comissário de policia.
No ano de 1965, Américo Abiorana casou-se com a senhora Glória da Costa Abiorana. Da união nasceram cinco filhos: Salomão, Cláudio, Samara, Sara e Américo Filho.
Entre 1978 e 1982, Américo Abiorana trabalhou como delegado de polícia no lugar do saudoso delegado tenente Henrique Lopes. Sua posse, naquela ocasião, foi marcada por discursos cheios de emoção e lágrimas, além de elogios. Américo era o mais cogitado para assumir a função por ser o mais competente e organizado em suas atividades, especialmente nas diligências policiais. Ele tinha uma maneira própria para desvendar os crimes.
Nas horas de lazer, Américo Abiorana gostava de pescar nos rios Guaporé, Paacas-Novos, Bananeiras e outras localidades.
No período de 1984 a 1985, Américo Abiorana foi nomeado o primeiro diretor da Secretaria de Interior e Justiça (SEIJUS), chefiada naquela época pelo delegado e deputado estadual Walderedo Paiva. No ano de 1989, Américo Abiorana voltou a trabalhar na Delegacia de Polícia. À noite ele lecionava a disciplina de matemática nas escolas Simon Bolívar, Paulo Saldanha, Capitão Godoy e Rocha Leal.
Foram 37 anos de amor e dedicação à polícia e ao magistério. Ao longo dessa carreira profissional sempre manteve-se com caráter e honestidade, tendo recebido elogios das autoridades que moravam em Guajará-Mirim e de seus superiores.
No dia 5 de novembro de 1994, Américo Abiorana foi surpreendido por uma terrível dor nos rins. Internado no Hospital Bom Pastor foi submetido a uma bateria de exames. Por volta das 23h30, ao ser examinado pelo médico plantonista, Américo estava com seu estado de saúde cada vez mais grave. Os rins tinham parado de funcionar e na cidade não havia mais recursos a utilizar.
Colocado numa ambulância para ser transferido para a Capital, Américo Abiorana sofreu uma parada cardíaca quando se encontrava ainda no perímetro urbano da cidade. Com isso, foi levado às pressas a uma clínica, nas proximidades, vindo a óbito por volta de 1h30 da madrugada.
Além de policial e professor, Américo Abiorana era maçom. Ele ingressou na loja maçônica Pedro Michael Struthos no dia 10 de junho de 1982.

É da época de Américo Abiorana, o assassinato do médico Ildair Munin, na época vereador em Guajará-Mirim. Munin foi morto dentro do hospital Bom Pastor. Um padre foi condenado como mandante do crime.
Guajará-Mirim ainda foi palco de outro crime violento, investigado e desvendado por Pedro Marinho. O fazendeiro Rafael Ocampo foi morto pelo empregado, que chegou, inclusive a participar dos funerais. Descoberto ele confessou o crime e indicou o local onde havia guardado vários pertences roubados do patrão. Esse caso aconteceu 1984.
Ainda na década de 80, com a explosão do garimpo de ouro na área do Rio Madeira, a Polícia Civil foi obrigada a montar operações para conter a violência, chegando ao ponto de proibir a entrada de mulheres e retirando as que lá já se encontravam, impedindo ainda a entrada de bebidas alcoólicas e prendendo contrabandistas, ladrões e pistoleiros.
Um levantamento feito pela FIERO em 1977 apurou a existência de 600 dragas, 450 balsas, além de equipes de trabalhadores manuais. Na atividade direta e indireta, havia naquele ano 3.450 trabalhadores, obrigando o governo a redobrar os esforços para manter a segurança na área.
Como se vê, o policial sempre foi um profissional importante na preservação da segurança e no esclarecimento de delitos. Necessariamente, ele não era formado em Direito e sua nomeação se dava por ato de governantes, ora do Amazonas, ou do Mato Grosso.
Com a transformação de Rondônia em Estado, a contratação de novos policiais se dá por concurso público. Com isso, a Secretaria da Segurança tem a oportunidade de escolher o melhor e ainda instruí-lo através dos métodos mais atualizados para combater o crime. Mas para chegar ao que é hoje a Polícia Civil, muitos tiveram que lutar, sacrificando até mesmo a própria vida. Muitos tombaram na caçada a criminosos. Outros, baleados em combate, estão hoje aposentados.
CÉSAR AUGUSTO RIBEIRO DE SOUZA

César Augusto Ribeiro de Souza é um dos bacharéis em Direito que exerceu o cargo de delegado de Polícia. Ele nasceu em Porto Velho (RO), no dia 23 de março de 1949. Filho de Francisco Alberto David Duarte de Souza, um ex-seringalista, falecido em 1965, e de Diva Figueiredo Ribeiro.
César Ribeiro fez seus primeiros estudos no Colégio Barão do Solimões e no antigo Colégio Dom Bosco, quando essa instituição funcionava no prédio que fica ao lado da Catedral de Porto Velho. Concluiu os cursos ginasial e científico no Liceu do Ceará, em Fortaleza (CE).
No ano de 1971, César Ribeiro ingressou no curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, colando grau em dezembro de 1975. No dia 14 de dezembro de 1978 foi contratado, no regime da CLT pelo governo do então Território Federal de Rondônia, para exercer o cargo de “advogado C”.
Após tomar conhecimento da estrutura e funcionamento da Secretaria de Segurança de Rondônia, que tinha como secretário o dr. José Mário Alves da Silva e como diretor-geral de Polícia Civil o dr. Luiz Glaysman de Oliveira, e receber instruções e orientações, foi designado pela portaria de pessoal nº106/NAA/UP/SSP-79, de 23/02/1979, para exercer a função de delegado de Polícia, passando a exercê-la na Delegacia de Polícia do 2º Distrito Policial de Porto Velho, como delegado-adjunto, cujo titular era o dr. Victor Pereira.
Pouco tempo o delegado Victor Pereira foi promovido ao cargo de delegado-corregedor da Polícia Civil, assumindo, então, o dr. César Ribeiro a titularidade do 2º DPl da Capital. No dia 11 de junho de 1979, pela portaria de pessoal nº236/NAA/UP/SSP-79, ainda na gestão do dr. José Mário, César Ribeiro foi promovido a diretor da Divisão de Polícia Metropolitana – hoje Departamento de Polícia Metropolitana - com exercício na Central de Polícia, que funcionava naquela época no prédio localizado na esquina da avenida Farqhuar com a Carlos Gomes. Ali ele passou então a comandar a atuação da Polícia Civil na Capital e nos distritos do município de Porto Velho.
Ainda no mês de outubro daquele ano de 1979, pela portaria nº508/DAF/UP/SSP-79, César Ribeiro foi designado para responder pela Delegacia de Polícia no Município de Cacoal, onde o então delegado Dr. Antônio Starling havia se envolvido em desentendimentos com um empresário local, dono de um auto-posto, ficando insustentável sua permanência naquela cidade.
Em Cacoal, César Ribeiro que havia sido designado por 16 dias apenas, acabou permanecendo por um mês, tempo em que realizando marcantes operações em Cacoal e no então distrito de Rolim de Moura, com apoio de Walderedo Paiva, então delegado regional em Ji-Paraná, e sua equipe de policiais, soergueu a confiança e a credibilidade da Polícia Civil naquele município.
Com a substituição do dr. José Mário Alves da Silva pelo delegado da Polícia Federal, dr. José Cláudio Teixeira e Silva, esse trouxe da Polícia Civil de Minas Gerais vários delegados, os quais passaram a ocupar os cargos de comando da Polícia Civil do então Território Federal de Rondônia.
A “importação” desse grupo de policiais mineiros, naturalmente, desagradou os delegados que há mais tempo já se encontravam trabalhando na Polícia Civil de Rondônia, surgindo, então, uma certa animosidade entre os dois grupos.
César Ribeiro que não fazia parte do grupo de delegados mais antigo e que fora mantido pelo novo secretário da Segurança, José Cláudio Teixeira e Silva, no cargo de diretor da Divisão de Polícia Metropolitana (Comando da Capital e Distritos), caiu na simpatia desses novos delegados da confiança do secretário da Segurança, sendo prestigiado em suas ações, idéias e sugestões para melhoria das atividades policiais.
Os delegados de Polícia oriundos de Minas Gerais ao virem trabalhar em Porto Velho não trouxeram suas famílias (os casados), fato que os levava a freqüentemente viajarem a Belo Horizonte, onde passavam alguns dias.
O então diretor-geral de Polícia Civil era um desses delegados mineiros, que viajava com assiduidade à Minas Gerais.
César Ribeiro que havia conquistado a confiança dos delegados mineiros, inclusive, a do diretor-geral de Polícia Civil, passou a ser convocado por ele a auxiliá-lo mais diretamente. Com o tempo o diretor-geral passou a designar o dr. César para responder pela Direção Geral da Polícia Civil, quando de suas freqüentes viagens a Belo Horizonte.
Nessas substituições do diretor-geral, o dr. César além de comandar as operações policiais e gerir todas a estrutura operacional da Polícia Civil de Rondônia, também cuidava da parte administrativa, assinando e encaminhando documentos e papéis em geral para o gabinete e demais órgãos da Secretaria da Segurança.
Com o tempo, o Dr. César foi percebendo que por ocasião das viagens do titular da Direção Geral chegava a sua mesa para despachar um crescente número de processos de concessão de diárias de viagens para alguns determinados policiais, o que lhe suscitou certa desconfiança quanto à lisura daqueles atos administrativos.
Intrigado com a constância daquelas requisições de diárias e com o empenho dos “beneficiários” no rápido recebimento desses dinheiros, o dr. César resolveu investigar o fato, partindo de interpelação de alguns desses “beneficiários” das diárias e constatou, estarrecido, que muitas dessas missões eram fictícias, isto é, inexistentes, constituindo-se de fraudes aos recursos públicos.
Num dos casos investigados pelo dr. César um agente policial beneficiário de 30) diárias, esclareceu que a sua “missão” consistia em ficar à margem do Rio Madeira, numa determinada área de garimpo de ouro, aguardando que o corpo de um garimpeiro morto e lançado ao rio com pedras amarradas aos pés, boiasse.
Obviamente que o corpo do infeliz garimpeiro jamais boiaria, pois era muito comum naquela época, logo após o afogamento de uma pessoa no Rio Madeira, o corpo, quando encontrado, achar-se praticamente reduzido a esqueleto, dada a voracidade dos candirus e outros peixes.
Constatado o esquema de diárias, o dr. César imediatamente dirigiu-se ao gabinete do secretário da Segurança para relatar o grave fato de desvio de verbas públicas. Estando o dr. José Cláudio em viagem, relatou o que apurara ao secretário-adjunto, dr. Gaspar, ao qual disse que não ficaria nem mais um dia respondendo pela Direção Geral da Polícia Civil, nas ausências do titular.
Naquela ocasião outras irregularidades já vinham sendo averiguadas, possivelmente, pelos delegados do grupo mais antigo, especialmente com relação ao destino de armas de fogo aprendidas nas blitz policiais, que em vez de serem encaminhadas para a Delegacia de Armas e Munições e depois ao Exército, estavam sendo levadas para Minas Gerais.
O Dr. César não tinha conhecimento desses desvios de armas apreendidas, o que, obviamente, não foi tratado na sua conversa com o dr. Gaspar, secretário-adjunto da Segurança.
Todavia, alguns dias depois daquela conversa com o dr. Gaspar, o jornal “Alto Madeira” noticiou, em manchete de primeira página, todo o esquema de fraudes perpetradas pelos delegados mineiros, atribuindo a denúncia a César Ribeiro.
Sem saber absolutamente de nada, César Ribeiro foi convocado a comparecer imediatamente ao gabinete do então governador, o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, em palácio, onde já encontravam-se o dr. José Cláudio Teixeira e Silva, e o seu adjunto, dr. Gaspar.
Na ante-sala do gabinete do governador foi que o dr. César deparou-se com a manchete do “Alto Madeira”, noticiando os fatos e atribuindo à sua pessoa a denúncia dos mesmos à imprensa, fato que não era verdade.
Em verdadeiro estado de choque emocional, dada a gravidade da situação, o dr. César foi recebido pelo Teixeirão, que elevando o tom de voz bradou: “...porra dr. César eu estou tentando ajeitar a Polícia e o senhor está esculhambando?”
O dr. César, também elevando a voz para se fazer ouvir, disse: “Governador não fui eu quem deu essa informação ao jornal, mesmo porque dela não tinha conhecimento”. O Teixeirão imediatamente mandou sua secretária ligar para o dr. Euro Tourinho, diretor do jornal, pedindo explicações e dizendo que iria processar o “Alto Madeira”, ao que o dr. César aduziu dizendo que entraria de litisconsorte ativo na ação contra o jornal.
Extremamente aborrecido com o episódio que lhe atribuía um fato que pelo qual não era responsável, o dr. César pediu suas férias e viajou para Fortaleza, (CE), de onde não pretendia voltar sequer para pedir demissão.
Foi determinada pelo secretário da Segurança, a instauração de uma sindicância para apurar os fatos, à qual o dr. César prestou esclarecimentos antes de viajar. Ao final dos trabalhos, a comissão de sindicância constatou as irregularidades apontadas na reportagem do “Alto Madeira” e muitas outras, o que levou o Secretário da Segurança a exonerar os delegados mineiros.
Ao retornar de férias de Fortaleza, já confortado com a constatação pela comissão de sindicância das irregularidades que vinham ocorrendo na Polícia Civil, o dr. César apresentou-se ao gabinete da Secretaria para reassumir suas funções. Recebido pelo dr. José Cláudio Teixeira e Silva, secretário da Segurança, o dr. César recebeu deste um pedido de desculpas pelo ocorrido e um convite para assumir, em caráter efetivo, a Direção Geral da Polícia Civil.
Invocando a sua condição de rondoniense nato e interessado no desenvolvimento e progresso de sua terra, o Dr. César aceitou o honroso convite dizendo ao secretário que não fugiria à luta para a qual estava sendo convocado. Assim, pela portaria de pessoal Nº234/DAF/UP/SSP, de 01/03/1980, o dr. César foi designado para exercer o cargo de diretor-geral de Polícia Civil do então Território Federal de Rondônia.
Cabe lembrar que ao ser nomeado delegado de Polícia, em fevereiro de 1979, não havia ainda a Academia de Polícia Civil. O Dr. César então, pautou toda sua atuação policial inspirado pelos ditames da legislação, pelo bom senso e, sobretudo, no que tangem às operações, pelo que via no cinema e na literatura da eficiente atuação das polícias internacionais.
O Dr. César como humanista, jamais permitiu que seus comandados, agentes e delegados, desrespeitassem os direitos humanos, recomendando que dessem aos indiciados e investigados em geral, o tratamento previsto pela lei. Jamais admitiu ou tolerou qualquer excesso dos policiais, quanto à violência e muito menos tortura de qualquer espécie.
Após um período curto, mas de atuação marcante em todo o Estado, imprimindo às ações operacionais um cunho de modernidade e eficiência, chegando algumas vezes a ser confundida com a Polícia Federal, como numa atividade desenvolvida na cidade de Vilhena, o Dr. César, em 02/07/1980 foi, a pedido, transferido para a Procuradoria Geral do Território Federal de Rondônia, indicando, a pedido do Dr. Hélio Máximo Pereira, que então assumia a Secretaria da Segurança, o nome do dr. Sebastião Teixeira Chaves - hoje desembargador do Tribunal de Justiça de Rondônia - para substituí-lo na Direção Geral da Polícia Civil.
Segundo os registros, o diretor da Polícia Civil naquele época era Carlos Lobo. Haviam outros quatro delegados. Mas os antigos eram Luiz Glaysman, Sebastião Teixeira, Paulo Otto Barbosa, Sidney Rego Maia. Depois chegaram Walderedo Paiva, Helecildo, Luciano Agra e outros.

VALDIR OLENSKY

Ingressou na Polícia Civil em 1984. O secretário era o delegado da PF, Humberto Moraes de Vasconcelos. O diretor-geral da Polícia Civil era Claudionor da Silva. Olensky trabalhou no 4º DP, em Rolim de Moura, Cerejeiras, voltou ao 4º DP, passou pela Homicídios e Roubos e Furtos.
Olensky aposentou-se em 1989. Em 1987, durante uma caçada em Jacy-Paraná, quando procurava Pedro Cordeiro, ele sofreu um acidente. Cordeiro que tinha matado o policial Jonas e baleado o agente Edmilson. Pelos crimes, pegou 25 anos e seis meses de cadeia.
Na caçada, Olensky caiu, sofrendo lesão na coluna. Ficou impossibilitado de trabalhar. Hoje é advogado militante na comarca de Porto Velho.
Como delegado, ele trabalhou no casos Guedes, Franceli, do secretário da Emater e Fernanda Ereira. Em sua vida profissional sempre teve a ajuda da imprensa e da sociedade. Na sua época, os jornalistas freqüentavam seu gabinete diariamente.
Natural do Paraná, Olensky veio para advogar, mas ingressou na Polícia Civil por necessidade financeira. Gostou e ficou. "Não era nada daquilo que o povo falava. Tinha uma irmandante muito forte. Um por todos. Todos por um".
A Arepol, a Associação dos Repórteres Policiais, homenageou Olensky como melhor do ano.

UTROS PIONEIROS


Oriundo da extinta GT e ainda em atividade em Porto Velho até novembro de 2007, Reginaldo Fernandes da Silva, era um dos antigos policiais ainda trabalhando. Mais conhecido pelo apelido de Xerife, ele ingressou na GT em abril de 1974, quando tinha 19 anos de idade. Na época era oriundo do Exército Brasileiro.
Atualmente, Xerife é o chefe do Serviço de Investigações e Capturas da Delegacia Especializada de Crimes contra a Vida. Em tempos passados, Xerife brilhou no futebol da Capital como integrante do time do Ypiranga Futebol Clube.

Outro antigo na Polícia é Euclides Lopes de Souza. Ele ingressou na Polícia no dia 31 de março de 1976 como condutor oficial de viaturas. Naquela época estavam na polícia Curuja, Norberto, Santana, Zeno, Valdemar Vieira Costa, Baiano, Jacó Santos, Chico (morto em tiroteio no prédio da Caerd onde funcionava a SSP), Sebastião Vira-Bicho, Valdemar que hoje é delegado no Ceará, Osnir, Jonas (morto em Jacy-Paraná), Jango e Almir. Eronilson Galvão que foi baleado e pediu baixa da Polícia.
João Leite do Nascimento, nascido em Porto Velho, ingressou na Polícia no dia 3 de janeiro de 1977. Seus colegas de incorporação era Barbosa, Mustafá, Sérgio Barriga, Manoel, Edmilson, Jaime, Adelmo, Josefina Flores, Miranda (que mais tarde ingressou na PM e chegou ao posto de sargento) e Edílson Lopes, atual chefe do Sevic da Patrimônio. Essa turma fez um curso de 30 dias. A escola funcionava no prédio que abriga o cartório eleitoral da 2ª Zona Eleitoral, na rua Prudente de Moraes. As aulas eram pela manhã e a tarde os alunos faziam estágio na Central de Polícia. O tenente Ferro foi instrutor de tiro, no 5º BEC.

Delegados de Polícia naquela época: um gordo, Luiz Glaysmann, Sebastião Teixeira Chaves e Otto Barbosa. Outros policiais eram Geovaldo Sena, o Babá, diretor do Murilo Braga, irmão do Gilson, policial que trabalha na corregedoria. Ele foi policial e depois deixou a Polícia.

PRIMEIRO ASSALTO

É da época de Zé Mário, o registro do primeiro assalto a banco em Porto Velho protagonizado pelo elemento conhecido pela alcunha de Almeidinha. O facínora roubou naquela ocasião uma pasta cheia de dinheiro da agência do Banco Real, pelo lado da rua Natanael de Albuquerque.
Almeidinha ficou famoso também por ficar desafiando a polícia, mas apenas por algum tempo. Logo ele acabou capturado e o caso foi esclarecido. Passou um bom tempo vendo o sol nascer quadrado.

TIROTEIO NO PRÉDIO DA CAERD

Outro episódio daquela época que foi manchete na imprensa local é o assalto a uma casa de carne, a Marchantaria Guaporé, que ficava na avenida 7 de Setembro esquina com a rua Gonçalves Dias.
Segundo os registros, certo dia o comerciante conhecido na cidade pelo apelido de Gordo amotinou-se no prédio da Caerd, de onde ligou para a Central de Polícia, alegando que tinha uma importante informação para a Polícia. O policial Zeno atendeu a ligação. Apressado, ele chamou os colegas Jaime, Robero e Chico.
Os policiais embarcaram em um Fusca, o veículo mais moderno que a Polícia dispunha naquela época, e seguiram para o local. Chegando na escada que dava acesso ao gabinete do secretário, Chico e Jaime foram recebidos a tiros por Gordo, que empunhava dois revolveres. Chico morreu na hora. Jaime só algumas horas dpeois percebeu que estava ferido.
No confronto, o comerciante foi baleado e ficou caído no piso. Parecia morto, mas sobreviveu ao tiroteio, tendo sido socorrido por policiais. Esse caso aconteceu no dia 23 de abril de 1977.



ANDRÉ GUIMARÃES

De lá para cá alguns nomes ficaram conhecidos no submundo do crime. André Guimarães, que dizia ter poderes sobrenaturais para fugir da cadeia na hora que bem entendia, Carlinhos, que começou furtando bicicleta e depois notabilizou-se como um grande ladrão, Curicão e a Gang da Nazaré, que assaltavam e matavam caminhoneiros na BR-364.
Uma das vítimas do bando foi o motorista Geraldo alvejado a tiros enquanto ajoelhado implorava clemência. Coindidência ou não, Curicão, que era membro da quadrilha, foi morto no Presídio da Ilha de Santo Antônio, hoje extinto. Na época, a imprensa divulgou que Curicão morreu na mesma posição em que Geraldo foi executado: ajoelhado e ainda pedindo pelo amor de Deus.
Anos depois, o autor da execução de Curicão resolveu contar o que de fato aconteceu. Leia a entrevista inédita:
Erasmo Francisco da Silva

Depois de muitos anos, Erasmo Francisco da Silva decidiu nos contar o que de fato aconteceu naquele dia em que, com três tiros, matou o bandido Curicão, no interior do Presídio da Ilha de Santo Antônio.
Erasmo Francisco da Silva recorda que começou a trabalhar na segurança em 1974. Era empregado de uma empresa de vigilância que prestava serviços ao governo do então Território Federal de Rondônia. Em 1981, passou compor o quadro de servidores públicos como condutor de viatura da Polícia Civil. Isso depois de comer o pão que o diabo amassou – com os pés.
Por causa da morte de Curicão, Erasmo Francisco da Silva passou algum tempo na cadeia. Depois cumpriu a pena de seis anos em regime semi-aberto. No albergue, a concluiu o cumprimento da pena.
Procurado para falar sobre episódio especialmente para este livro, Erasmo Francisco da Silva disse que há tempo esperava a oportunidade de contar sua versão. Na época do episódio, ele disse que tudo foi deturpado.
Na época, Erasmo Francisco da Silva chefiava uma equipe de seis vigilantes. Dias antes de matar Curicão, Erasmo recebeu a incumbência de escoltá-lo até Porto Velho. Embarcaram em um barco movido a motor e desceram no Cai-n’Água. Seguiram para a Policlínica Osvaldo Cruz que funcionava nas dependências do prédio em que hoje funciona a ALE. Depois da consulta, já voltando para a ilha, Curicão pediu para que passassem em dois locais, fora da rota. Primeiro, ele pretendia visitar uma revendedora de carros, na avenida 7 de Setembro com Nações Unidas. Depois ele queria visitar um cabaré que funciona no Cai-n’Água. Erasmo disse que não o levaria a nenhum lugar. Na tentativa de intimidação, ele ainda insistiu com a promessa de que lhe daria 50 cruzeiros. Na época era uma quantia significativa para um simples vigilante. Erasmo não aceitou. A sua negativa deixou Curicão zangado. Dias depois, quando deveria voltar ao médico, ele recusou a escolta de Erasmo. Mas não ficou só nisso. Passou sugerir aos demais presos que se insubordinassem ao vigilante.
Pouco depois, quando tentava fugir, foi capturado pelo próprio Erasmo. Armado com um terçado tentou resistir, mas acabou dominado. Sua fúria aumentou. Não demorou muito tempo tentou matar um preso, o Boi-em-pé. Erasmo estava presente e evitou a consumação do homicídio.
Temendo represálias, Erasmo recorda que procurou o Conceição, que era encarregado do presídio. As providências ficaram nas promessas de que tudo estava resolvido e que Curicão estava sob seu controle.
No dia do crime, Erasmo chegou à ilha para assumir seu plantão. Ao invés de Curicão estar na cela, ele se encontrava na cozinha. Ele ainda pediu ao Conceição que Curicão fosse recolhido. Conceição contemporizou. “Tudo está resolvido”, teria dito.
Como Conceição naquele dia tinha um compromisso na cidade, Erasmo permaneceu no seu posto. Não demorou muito soube que Curicão estava prometendo matá-lo. Como seu superior não tinha resolvido a pendenga, resolveu ele mesmo falar com o preso. Primeiro mandou chamá-lo na sala da administração. Ele não atendeu. Depois, foi pessoalmente à cozinha. Ocorreu um diálogo áspero entre eles.
No momento em que pegou um machadinho usado para cortar carne, Curicão partiu para cima de Erasmo. Sacando de um revólver que usava, Erasmo desferiu três tiros. Baleado, Curicão se arrastou no corredor da cozinha e caiu, morrendo ali mesmo. Como estava de serviço, Erasmo recorda que ali permaneceu aguardando a chegada da Polícia. Só por volta das 17h daquele dia, os policiais chegaram. Recebendo voz de prisão foi levado para a Central. O corpo do preso foi recolhido após a perícia.
Por causa da morte de Curicão, Erasmo foi colocado no tampão. Ali começava, segundo ele, seu pesadelo. Encarcerado começou a ser acusado de ter matado o preso a mando de um advogado que, meses antes, havia sido acusado pelo próprio preso de fazer parte de uma quadrilha que assaltava na cidade. “Eu nunca vi esse advogado antes”, garante. Só tempos depois é que veio a saber quem era o tal advogado. Levado a julgamento foi condenado. Depois de cumprir sua pena, Erasmo ingressou na Polícia, como condutor de viatura, em 1981. Hoje, muitos anos depois, pode afirmar que sua conduta é a melhor resposta para todas as acusações que foram formuladas sobre sua pessoa.
Ainda trabalhando na Polícia, Erasmo recorda que naquela época, eram delegados Dr. Cláudio, Walderedo, Marcos Porto, entre outros. Bandidos famosos já se destacavam como André Guimarães, Deotílio, Zé Carlos, Nazaré, Curicão e Zé Preto.

Entraram para os anais da Polícia Civil de Rondônia crimes de repercussão como os assassinatos do comerciante Raimundo Ripardo, o do engenheiro da Ceron João de Deus Simplício, e anos depois, a execução do advogado Agenor Martins de Carvalho e o desaparecimento do radialista José Wilton Pereira Guedes, entre outros.

Um bandido que aterrorizou Porto Velho foi o conhecido e já falecido Sapeca, oriundo de Manaus. Ele matou o vigia da Construtora Dragão e tempos depois de ter fugido do Presídio Central voltou para Manaus onde acabou morto em tiroteio com a Polícia.

Peritos daquela época: Altamir Lopes Noé, aposentado e vivendo no Maranhão, Jorge Tadiotto, que deixou a Polícia anos depois, Rubens Carmo da Cunha, que é taxista na Capital, Elias Mariano, aposentado e micro-empresário, e João Rebosco, hoje aposentado e residindo em Vilhena.
Outros policiais conhecidos daquela época: Baiano, Octávio, Erenilson, Lima, Jacó Santos, Geraldo. Os escrivãos: Ademir, Germano, Tarcisio, Evandro Rocha, pai do hoje assessor jurídico da Polícia Civil, o advogado Edson Rocha, que foi agente policial no período de 1962 a 93, além do delegado Maia.

Marcos Antonio Pando de Souza
Marcos Antonio Pando de Souza ingressou no quadro da Polícia em 1972, através de contrato. Em 1973, sua carteira foi assinada, pelo regime CLT. Inicialmente era detetive, depois passou para perito de trânsito e perito criminal. Naquela época, o secretário da Segurança era o advogado Miguel Roumiê. Mais tarde, Roumiê viria a ser substituído por José Mário Alves da Silva. O diretor do IC era Francisco Ribeiro de Lima. Também naquela época funcionava na Polícia, o SIC, Serviço de Investigações e Capturas.
Em 1972, segundo Marcos Pando, já estavam na polícia Simeão Tavernard, Baiano, Zeno, Chico e Jacó Santos, Evaldo, Sidney Eduardo Rego Mayo, que era escrivão e depois, formado em Direito, tornou-se delegado. Eles integravam a famosa quarta turma. O delegado era Manoel Médici Jurado. Ainda eram delegados Edgar Brasil, Melo, Hamilton Alt e Pedro Origa Neto e Araújo Lima.
Com Marcos Pando, ingressaram na época na polícia os seguintes colegas: Buzé (agente e irmão do coronel Ferro), Valmir Miranda (escrivão e hoje jornalista), Lucivaldo Souza (agente e hoje radialista), e mais dois companheiros, Sabarito e Leno.
O pai de Valmir Miranda, Valdemar Vitorino, ingressou na Guarda Territorial, ainda no primórdios da corporação, junto com Mariano Souza, pai do coronel Valnir Ferro de Souza. Os dois ainda chegaram a ser convocado para a Segunda Mundial. A Guarda Territorial ficou de prontidão aguardando só o chamado.

O policial Jean Fialho é outro antigo. Ele foi comissário de polícia e depois formou-se em Direito na Uniron, Faculdade Interamericana de Porto Velho.

CASO ASSIS

Três delegados entraram para a história da Polícia de Rondônia ao serem acusados pela morte do comprador de ouro Francisco Veras, o Assis. José Lamarques, Marcos Santiago e Marcus Porto, todos nordestinos, foram julgados e condenados. Os três acabaram exonerados do cargo. Apesar da fama adquirida com a repercussão do caso, eles prestaram relevantes serviços a Rondônia em momento em que fazer segurança era difícil.

3 comentários:

F R A N C I S C O S A L E S disse...

Caro Dalton,
boa noite!
Dedicarei algum tempo para ler na íntegra os assuntos que escreveu sobre a SSP/RO e, especialmente, as atividades dos policiais.
Se aceitar, posso enviar alguns assuntos ocorridos que poderão enriquecer seus escritos. Exemplo: Na época do assassinato do médico Ildair Munin, em Guajará Mirim, tendo como criminosos Gilmar e Francisco que cometeram o assassinato a mando do Padre Alexander Bendoraites, de fato, foi na época do Delegado Américo, porém o I.P. foi presidido por outro Delegado e, diga-se, graças à sabedoria do Perito Francisco Ribeiro Lima. Acerca desse fato, o Padre não foi condenado, mas absolvido depois de passar um ano na prisão.
Aguardo sua autorização para mandar novas notícias.

Jacques disse...

Bom dia Dalton!
Eu estava procurando por fatos acerca do assassinato de meu tio, Ildair Munin.

Então, eu gostaria de saber se você tem algum texto sobre o acontecido?

Bom dia, e desde já agradeço!

Jacques disse...

Perdão, mas esqueci de dizer, que inclusive é a pedido de minha tia Mirza Munin e de meu primo Ildair Muni Junior.